A tecnologia wearable (gadgets que “vestimos”) veio revolucionar, principalmente, o mundo do fitness, mas a verdade é que os dados recolhidos por estes equipamentos podem ajudar-nos noutros campos da nossa vida, como no sono.

Alguns académicos referem como estas tecnologias recentes vão ficando mais acessíveis a todos e podem ser uma grande ferramenta para perceber melhor algumas questões do sono e encontrar formas eficazes de lidar com distúrbios.

“Compreender os padrões de exposição à luz e de atividade sono-vigília para milhões de pessoas vai ajudar a definir melhor o que realmente parece um sono saudável ou fora da norma” refere Phyllis Zee, professora de neurologia e chefe do departamento de Medicina do Sono da Feinberg School of Medicine da Northwestern University (EUA). Mas há quem seja mais cauteloso sobre a utilização de wearables. É o caso de Weng Khong Lim, um professor assistente da Duke-NUS Medical School (Singapura), que apontou a necessidade de “uma base de evidências para a utilidade de wearables para detetar distúrbios do sono” antes que esses dispositivos possam ser usados para monitorar o sono em maior escala.

No entanto, o caminho é promissor, uma vez que alguns destes gadgets já foram aprovados pela FDA (Food and Drug Administration) para, por exemplo, detetar fibrilação atrial. Para Lim esse será o caminho necessário para se estudar o sono.

Colin Espie, professor de medicina do sono na Universidade de Oxford (Inglaterra), também é da opinião que a utilização de wearables para estudar o sono ainda precisa de validação e aponta ainda outra questão: a tecnologia pode ter um efeito prejudicial, causando stress e fazendo com que as pessoas durmam menos.

Entender comportamentos, melhorar o sono

Mas há também quem assuma como muito valioso a quantidade de dados que podem ser fornecidos com estes ‘devices’. Afinal, dizem-nos os horários em que as pessoas dormem ouse dormem mais ao fim-de-semana, por exemplo.

Ingo Fietze, chefe do Centro Interdisciplinar de Medicina do Sono do Hospital Charité em Berlim (Alemanha), enfatizou que, quando utilizados em grande escala pela população, os dados obtidos podem revolucionar a compreensão que temos do sono. “Quanto mais sabemos sobre o comportamento do sono da população, melhor podemos identificar as diferenças interculturais e de género e aprender sobre a influência da luz, temperatura, ruído e humidade. Quanto melhor entendemos o sono, mais fácil é intervir e propor recomendações para trabalho por turnos ou horários de trabalho flexíveis, jet lag, escola, desportos competitivos e trabalho em situações extremas como no Ártico, no espaço e no deserto”.