Estudo europeu mostra que o tempo gasto com dispositivos eletrónicos e a duração do sono permitem estimar o desenvolvimento de obesidade em crianças. De acordo com o levantamento, para cada hora a menos de sono do que o recomendado para a faixa etária, o risco de obesidade cresce 23%. 

 

O tempo que os mais novos gastam em frente a ecrãs (computadores, telemóveis, etc.) e a duração do sono deixam antever os níveis de obesidade e devem ser considerados como parte das estratégias de prevenção para reduzir o excesso de peso e condições de saúde relacionadas. São as conclusões de um estudo levado a cabo por investigadores da RCSI – Royal College of Surgeons in Ireland, que envolveu mais de 4.000 crianças (com idades entre 2 e 11 anos) de oito países europeus, e apresentado no Congresso Europeu e Internacional sobre Obesidade (ECOICO 2020), realizado online, entre 1 a 4 de setembro 2020.

As tendências globais sugerem que o tempo de sono das crianças está a diminuir, enquanto que o tempo que passam em frente a um ecrã (independentemente do dispositivo eletrónico) e o excesso de peso e a obesidade estão a aumentar. 

Estima-se que, em todo o mundo, 90% dos adolescentes não dormem as nove a 11 horas recomendadas por noite, o que coincide com o aumento do uso de dispositivos com ecrã. 

Estes novos dados corroboram as evidências de estudos anteriores que indicam que tanto a duração do sono quanto o tempo gasto em dispositivos estão associados ao excesso de peso, ao mesmo tempo em que adicionam evidências sobre como esses comportamentos interagem entre si para influenciar as mudanças no status de peso entre a população jovem.

O ESTUDO

No estudo, os pesquisadores examinaram as associações entre o tempo de ecrã, a duração do sono e o excesso de peso incidente em 4.285 crianças (de 2 a 11 anos de idade) de oito países europeus (Espanha, Alemanha, Hungria, Itália, Chipre, Estônia, Suécia e Bélgica) – que foram acompanhados de 2009/2010 a 2013/2014. 

No início do estudo, os pesquisadores descobriram que o tempo de tela (horas por dia) e a duração do sono (horas por dia) tinham uma correlação inversa, ou seja, a diminuição em um deles foi observada com um aumento no outro, então os pesquisadores avaliaram os seus efeitos separados e conjuntos na trajetória do peso.

As análises de 3.734 crianças que não estavam com excesso de peso  ou obesas no início do estudo, descobriram que para cada hora extra de exposição aos ecrãs, as crianças tinham 16% mais probabilidade de ficar com peso a mais ou obesidade durante o acompanhamento, enquanto cada hora a menos de sono estava associada com um risco 23% aumentado de sobrepeso ou obesidade.

No entanto, após cruzar os dados com outros indicadores como sexo, idade, região do país europeu e nível de educação dos pais, os pesquisadores descobriram que a associação entre o tempo de exposição e o excesso de peso não era estatisticamente significativa. Já a duração do sono permaneceu um indicador independente significativo de excesso de peso.

A falta de noites bem dormidas, ainda segundo o levantamento, causa alterações nas hormonas que regulam o apetite e a sensação de saciedade, o que torna as crianças mais propensas a comer em excesso. Já a falta de energia dificulta a prática de exercícios e, consequentemente, a perda das calorias consumidas.

“O nosso estudo destaca o potencial das estratégias de prevenção de excesso de peso e obesidade, que promovem a duração adequada do sono e limitam o tempo de exposição a ecrãs”, disse a Dra. Viveka Guzman do Royal College of Surgeons in Ireland, que liderou a pesquisa .

Apesar de algumas limitações ao estudo (baseado nos relatos dos pais, a não avaliação da atividade física, história familiar de obesidade ou padrões dietéticos, por exemplo), os investigadores concluem: ”O sono é uma parte frequentemente subestimada, mas importante do desenvolvimento das crianças, e a irregularidade do sono provoca uma variedade de problemas de saúde. As nossas descobertas sugerem que a duração do sono desempenha um papel na ligação entre o tempo de ecrã e o excesso de peso, mas mais pesquisas são necessárias compreender o mecanismo subjacente a esta relação. “

A nota de imprensa sobre o estudo pode ser lida, aqui.